Publicado em Set 12, 2014

A grande ilusão

A verdadeira razão pela qual todos os Bancos Centrais farão sempre o possível e o impossível para que nenhum banco ou país vá à falência é um tabu absoluto que ninguém ousa quebrar.
O silêncio sobre o grande segredo tem razão de ser: uma vez descoberto, seria capaz de provocar o pânico generalizado.

Francisco Louçã, notável economista de esquerda, têm-se insurgido nos últimos tempos contra a família Espírito Santo – escreveu até um livro – que diz ser “a casta que tem governado Portugal“.
À primeira vista admirei-me com a indignação de Louça, ainda mais sendo um reputado economista de esquerda! Mas depois resignei-me.

Louça está também ele a ajudar a perpetuar a grande ilusão. A ajudar a esconder o grande tabu. A questão é, será propositadamente ou por desconhecimento?

Ao indignar-se e vir para os jornais denunciar as promiscuas ligações entre a política e a banca, neste caso entre o BES e todos os governos anteriores, Louça e os seus acólitos, pretendem demonstrar que o sistema está bem, funciona e recomenda-se, estes é que foram casos de excepção e que, como tal, deverão ser corrigidos pela justiça.

Tornando desta forma o caso num caso de polícia, evita que se cheque à verdadeira questão; e a verdadeira questão, é um grande tabu!

E o tabu é este: O dinheiro que usamos, que recebemos de ordenado e com o qual pagamos o almoço, é FALSO. Parece inconcebível? Pois parece, mas é mesmo assim!

Até há 50 anos (Nixon Shock) atrás o dinheiro valia o seu valor em ouro e era controlado pelos bancos. Quando os políticos perceberam que só ganhavam eleições se atirassem dinheiro para cima das pessoas e começaram a ter cada vez menos para o fazer, tiveram uma brilhante ideia: “mas espera lá, se nós é que mandamos, porque não imprimir notas iguais às outras e decretar que são tão válidas como as outras?”

A partir daí, as máquinas de impressão não mais têm parado. Em períodos pré-eleitorais, trabalham até 24h sem parar.

Acontece que por vezes, aparecem chico-espertos – e o tuga é pródigo nesta matéria – que percebem a marosca e resolvem entrar no esquema.

A lógica é mais ou menos esta: “Espera lá, se isto é tudo falso, deixa-me imprimir também umas notas. Se der para o torto, estou sempre em casa, porque os tipos farão tudo para que não se descubra que é tudo uma grande fraude. E a melhor maneira de fazer isto como deve ser é ter como sócios alguns dos mafiosos que controlam o esquema, ou seja os políticos.”

Arranja-se uma impressora (para conseguir uma impressora basta abrir um banco) e vá de imprimir notas para o próprio bolso. (os bancos imprimem dinheiro sob a forma de crédito)

E tudo funciona na perfeição, desde que não se abuse. O que Ricardo Salgado fez foi esticar a corda. Esticou tanto que partiu.

E o melhor e mais incrível de toda esta história é que o verdadeiro dinheiro ainda existe! Não se pode imprimir como o outro e ninguém lhe põe a vista em cima, excepto os bancos. Só os bancos são autorizados a ter dinheiro verdadeiro, do antigo, que emprestam e compram entre eles. Parece inconcebível outra vez? Pois parece, mas é mesmo assim!

As moedas foram criadas para facilitar as transacções comercias e valiam efectivamente o seu peso em ouro. As notas foram criadas para evitar carregar grandes pesos em moedas e significavam uma garantia, dada pelo banco emissor, em como o valor nelas inscrito estava guardado algures no banco sob a forma de barras de ouro, constituindo desse modo uma garantia e podendo a nota ser trocada pelo ouro a qualquer altura.

As garantias de hoje em dia, são a palavra dos políticos, e o seu valor passou a ser o que os políticos entendessem.

Lembram-se do jogo do monopólio em que, quando já havia poucas notas, alterava-se o valor de cada nota ou criávamos notas a partir de folhas de papel e concordávamos entre todos que eram válidas? Pois, é exactamente igual

O dinheiro de hoje é controlado secretamente pelos governos com um único objectivo: Eleger políticos ao tornar possível o crescimento eterno.

Ainda mais grave: é a própria democracia que está em jogo no momento em que se pare de imprimir dinheiro para dar às pessoas de modo a que possam consumir sempre cada vez mais.

Percebe-se portanto, que até Louça ajude a perpetuar a grande ilusão. Até quando?

Adenda: Austeridade? Não liguem, há que castigar o menino mal comportado para passar a ser bom aluno e não voltar a fazer o mesmo.

Publicado em Jul 8, 2013

#Revolução

Turquia, Brasil, França, todos os manifestantes têm muito em comum: grande parte destes jovens que se manifestam conseguiram chegar à classe média vindos de classes mais pobres.

Estes jovens perceberam que têm direitos. O direito à educação, à saúde, à habitação, ao trabalho e à segurança social.

Estes jovens estão bem informados: já não é eficaz distraí-los com futebol ou samba.

Estes jovens já perceberam como dominar os media: surfam as correntes politicamente correctas: um jardim na Turquia ou o preço do autocarro no Brasil.

Estes jovens já não têm medo, porque sabem que ninguém ousaria detê-los com violência: o Obama nunca iria deixar.

Estes jovens aprenderam a usar as redes sociais como ninguém: usam-nas para se organizarem de maneira eficaz e gratuita; usam-nas para diabolizarem a autoridade; usam-nas como máquina de propaganda nunca até hoje posta à disposição da humanidade.

Estes jovens manifestam-se porque são irreverente, é giro, está na moda, e é espectacular para conquistar as meninas mais giras. Não é esse o objectivo final de tudo o que um homem faz na vida?

Terão então razão?

Têm razão quando pedem mais liberdade na Turquia e quando pedem menos mensalões no Brasil.

Têm razão quando dizem que são sempre os mesmos a encher os bolsos.

Têm razão quando dizem que a justiça não funciona! Muito menos é igual para todos.

Têm razão quando dizem que os políticos não são presos por corrupção.

Têm razão quando dizem que as estradas são feitas para ganhar votos! Para no final do dia, enriquecer a empresa construtora amiga do governo.

Têm razão quando dizem que o sistema político não é mais do que uma gigantesca e elaborada teia de fraudes sistémica criada para servir os donos do poder: presidentes, ministros, vereadores, prefeitos, autarcas e toda uma vasta gama de “servidores públicos”.

Têm razão quando dizem que têm direitos: o direito à educação, à saúde, à habitação, ao trabalho e à segurança social.

Não têm razão quando exigem que o Estado lhe dê mais e melhor desses direitos.

E é isto que falha. É esse o isco que têm que parar de engolir.

É preciso parar de tentar apagar o fogo atirando gasolina para a fogueira.

É preciso fazer a pergunta fundamental: são os políticos que estão mal ou é o próprio sistema que está doente?

Quero ouvi-los gritar bem alto: “Deixem as pessoas em paz!”

Quero ouvi-los gritar bem alto: “Já percebemos a vossa manha! Invocar princípios inatacáveis, como ajudar quem mais precisa, para ganhar votos e perpetuar a festa, enchendo os bolsos: os vossos e da vossa clientela.”

Quero ouvi-los gritar bem alto: “Não precisamos do estado!” Ou, pelo menos, não precisamos de um estado que pode tudo, que está em todo o lado, de quem todos dependem, e onde todos mamam, por ordem hierárquica, claro está.

Será possível?

Estou pessimista. Dizem que a história se repete vezes sem conta. E o que diz a história?
Diz que foram as ideias liberais de Locke e Montesquieu que deram origem à revolução Francesa, mas foi Robespierre quem prevaleceu.

Tal como então, alguém navegará estas águas agitadas para, com exactamente mais do mesmo, de novo se eleger: um novo governo, com um socialismo mais puro, que irá dar mais educação, mais saúde, mais habitação, mais trabalho, mais segurança social.

As expectativas serão maiores e a desilusão ainda mais rápida. Outro governo virá, e outro, e ainda outro.

Até ao dia em que alguém aparecerá a proclamar “São todos iguais! Acabou-se! Vamos acabar com os políticos e estabelecer uma pátria nacional solidária e una, tendo como único propósito o restabelecimento da paz e da dignidade perdida nesta grande nação e com este grande povo”. E o povo aclamará o ditador.

Como evitar este desfecho? Só há uma maneira: abrir os olhos.

Todo o sistema parasítico tem um limite: os exploradores têm de estar em número muito menor do que o de explorados, que não podem abrir os olhos.

Tenho alguma esperança no Brasil: muitos destes jovens abriram os olhos no Brasil, para espanto de toda a classe política que, muito naturalmente, não sabe com lidar com este tipo de #revolução.

A #revolução aponta o dedo ao Estado, e perde pouco tempo a apontar o dedo a este ou aquele político.

A #revolução pretende limpar a poia de merda em vez de passar a vida a culpar as moscas.

A #revolução percebeu que sem merda, não há moscas!

revolucao

Publicado em Nov 24, 2012

IRC a 10%, uma oportunidade desperdiçada

Segundo o Expresso, a medida dos 10% de IRC parece ter sido aceite por Bruxelas. É a medida que há muito tenho vindo a defender e na qual guardava a maior das esperanças para verdadeiramente nos ajudar a sair do buraco.

Infelizmente, e como qualquer bom governo socialista que se preze, não podia deixar a medida em paz, sem legislar, limitar e controlar por todo o lado.

Começou por ser só para estrangeiros, depois recuaram. Agora é só para investimentos acima de 3 milhões de euros e apenas para novos investimentos.

Para começar, as grandes empresas como a Autoeuropa e outras que tais, todas elas negociaram a vinda para Portugal e já pagam menos IRS!

Depois, o ser apenas para novos investidores não é mais do que o Estado a distorcer o mercado, em que uma empresa há muito instalada e a esforçar-se, vê surgir uma nova que lhe consegue roubar facilmente os clientes! É justo?

Depois e finalmente, é uma medida que tem grande probabilidade de vir a ser retirada num futuro próximo (mesmo sem mudança política), os nossos tribunais estão o caos, e o IRS está a níveis nunca antes vistos (não me digam que as novas empresa não vão empregar pessoas).

Com este ambiente, os 10% de IRC não é mais do um isco para uma cilada. Os investidores estrangeiros cedo vão perceber isso e o chico-esperto tuga vai aproveitar-se para fechar a empresa velha e abrir uma nova.

Parabéns ao Governo por ter estragado mais uma oportunidade de ouro.

Publicado em Jan 5, 2012

Afinal a Jerónimo Martins ter-nos-à ajudado?

Ainda sobre a JM e para os poucos que ainda não entraram na histeria colectiva, e antes que o façam, é bom saber do que estamos a falar!

A venda da participação de 56% da Jerónimo Martins a uma subsidiária com sede na Holanda, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos DV – ninguém mudou sede nenhuma, houve apenas a alienação de participações sociais de uma SGPS – vai afectar a balança de pagamentos portuguesa de 2011 mas tem, por enquanto, efeito prático nulo para os cofres do estado, uma vez que:

a) A Jerónimo Martins continuará a pagar IRC em Portugal sobre os lucros aqui obtidos ou realizados fora do país.

b) Os acionistas continuarão a ser tributados aqui.

Surge então a pergunta legitima, porque fazê-lo? Para:

a) Evitar a dupla tributação associada ao investimento que o grupo tem previsto para a Colômbia. A dupla tributação Portugal-Colômbia é parcial enquanto Holanda-Colômbia é total. Também na Holanda, os juros e comissões relacionados com aquisições de participações são dedutíveis no IRC, enquanto por cá não.

b) Fugir às alterações que eventualmente irão ser introduzidas em 2011 sobre a tributação de dividendos obtidos fora de Portugal. Por enquanto é zero, mas o que saberá a JM que nós ainda não sabemos?

Esta ultima questão é a mais interessante. Quem sabe esta ação da JM irá fazer o Governo recuar, tendo sido por isso e em ultima análise, afinal bom para todos nós?

Publicado em Jul 6, 2011

Portugal no recreio da escola primária

O primeiro miúdo, o mais franzino, parecia ser o mais fraco. Os mais fortes resolveram pô-lo à prova: seria um alvo fácil dada a sua fragilidade. Ao primeiro que se aproximou respondeu “fazes-me alguma e levas um pontapé nos tomates”. Rapidamente mudaram de ideias.

O segundo miúdo, bem bronzeado e com ar simpático não teria sido escolhido não fosse o ser ar anafado, de quem come com as mãos e se enfarta todos os dias à mesa. Resolveram primeiro tirar-lhe o boné, já gasto do Sol. Voo de um lado para o outro entre as mãos dos mais atletas até ao fim do recreio. Ainda tentou correr, mas desistiu cedo e nunca mais recuperou o boné. No dia seguinte já levava pancada de todos, até do franzino, com quem no dia anterior, tinha tentado um pacto de não agressão circunstancial.

As meninas foram repreendidas por espalharem a notícia de que o gordinho lá da escola era o mais fraco de todos. Foi-lhes dito que era feio o que andavam a fazer e que só incentivava outros a baterem-lhe também. A directora da escola aconselhou-o: “Se te baterem mais vem-me dizer imediatamente; o que te estão a fazer não é correcto”.

O pai, não menos rechonchudo, foi mais longe: “avisa-os que lhes dás um pontapé nos tomates se te fizerem mal”. No segundo dia, já ia mais longe: “dá-lhes mesmo um pontapé nos tomates”.

Como já ninguém o levava a sério – de ser tão roliço, nem um pontapé conseguia dar – o pai, já em desespero, pensou: “Já só há uma maneira de resolver isto, quando ele hoje chegar da escola, vou-lhe dizer para levar a minha arma e dar um tiro num”.

Não era o pai o único a estremar posições. Determinados a ver até onde o pequeno podia ir, tinham-no levado, nesse mesmo dia, para uma falésia de uma praia perto.

Quem nem cães a coelho, rodeavam-no e ladravam: “Atira-te maricas, atira-te”! Os gritos da matilha de um lado e o precipício da falésia do outro.

Conseguiria o seu rebento ganhar coragem e, finalmente e em desespero, retaliar? Ou desistiria nos braços da sua fraqueza e, para espanto e gáudio dos outros rapazes, atirar-se-ia mesmo pela falésia abaixo?

Publicado em Nov 24, 2010

1995, o boom do multimedia em Portugal

Artigo que escrevi para a revista Visão, há exactamente quinze anos!

O ano de 1995 foi, na altura, considerado o ano do despertar da Internet em Portugal com 9 mil computadores ligados à Internet! 40 mil tinham leitores de CD-Rom: a loucura!

A recém-nascida Exame Informática puxa para capa “Portugal Online”, a Telepac é o único ISP e o SAPO ainda é só um serviço de apontadores portugueses.

Outras tendências, como os “cyber cafés” ou o VRML (3D nos browsers), acabaram por não ter o boom que então se previa.

E, curiosamente, uma notícia é tão actual como há 15 anos: Cavaco Silva inaugura site de campanha de candidatura à presidência da Republica!

Publicado em Nov 2, 2009

Liberalização de domínios .pt : mais um ano e tudo na mesma

Exactamente um ano depois do meu último post neste site… está tudo na mesma, o que significa, se for considerada a evolução da Internet fora de Portugal, está tudo muito pior.

A Internet fez há dias 40 anos e a principal notícia que acompanhou esta efeméride foi a aprovação, pelo ICANN, de extensões IDN.  Isto é, vai ser possível ter domínios como “www.omeu.cão”. Para nós não é muito relevante, uma vez que os caracteres que compõem “com”, “net” ou “org” fazem parte dos nossos teclados. Mas imagine os chineses ou árabes, como farão para visitar Google.com nos seus teclados?! Também aqui, e pela maneira como a noticia foi dada por alguns sites noticiosos se vê a ignorância que paira em Portugal acerca de domínios.

Vale a pena ler este post, na Domisfera, do qual saliento esta parte: “(…)Es inegable que la liberalización del .de en el momento exacto y perfecto, en la eclosión y auge de los dominios, no es desdeñable.(…)” 

Publicado em Jun 8, 2009

PSD vence as eleições europeias

A pior coisa que podia ter acontecido ao PSD. A oposição interna a Manuel Ferreira Leite dentro do PSD, que não tinha nenhum interesse em ganhar estas eleições, esvazia-se e a subida de um novo líder para as legislativas torna-se insustentável. E Manuela Ferreira Leite não é um bom candidato para Primeiro-ministro.

Por outro lado, este resultado alerta os simpatizantes da esquerda moderada para o perigo da vitória da direita nas legislativas e mobiliza-os para o voto útil no PS, vindos do Bloco de Esquerda e da CDU.

Para além disso, alerta também para os perigos da ingovernabilidade de um governo a partir de um resultado semelhante a este nas legislativas, coisa a que os eleitores também são bastante sensíveis.

Força ainda o PS a tomar o máximo de medidas populares e eleitoralistas durante os próximos três meses.

Estão portanto lançados os dados para uma vitória expressiva do PS em Outubro.

Sócrates já deu o mote no discurso da derrota: “preparação minuciosa para essa vitória”. Repararam no piscar de olho de Sócrates?

Uma última nota: confesso não ter conseguido concentra-me no discurso de Paulo Rangel: os emplastros em fundo eram inenarráveis.

Preocupante mesmo é a subida em toda a Europa dos partidos de extrema-direita. É um clássico; em tempos de crise, cada um olha só para o seu umbigo, entra-se em delírios proteccionistas, correndo com os imigrantes e esquecendo o que é partilhar com o próximo, esquecendo o que é ser socialista. Os resultados são sempre os que se sabem.

Publicado em Jan 13, 2009

Uma fotocopiadora de ouro

Pois é verdade, quem precisa de ajustes directos de 5,5 milhões de euros, se já o ano passado houve quem fornecesse uma simples fotocopiadora por 6.572.983,00 € (Sim, leu bem, 6 milhões de euros!)

Trata-se do “fornecimento de 1 fotocopiadora, Multifuncional do tipo IRC3080I, para a Divisão de Obras(!!!) Municipais” do distrito de Beja.

É este o modelo:

P.S: Espero bem que seja um erro!

Publicado em Nov 2, 2008

Domínios .pt: para quando a liberalização?

Quase um ano passado desde o anúncio da liberalização dos domínios .pt, quando teremos novidades?

Porque deixámos isto acontecer aos domínios .pt:

Gráfico em tempo real das tendências de procura .pt (a vermelho) e .com (a azul), em Portugal.