Turquia, Brasil, França, todos os manifestantes têm muito em comum: grande parte destes jovens que se manifestam conseguiram chegar à classe média vindos de classes mais pobres.
Estes jovens perceberam que têm direitos. O direito à educação, à saúde, à habitação, ao trabalho e à segurança social.
Estes jovens estão bem informados: já não é eficaz distraí-los com futebol ou samba.
Estes jovens já perceberam como dominar os media: surfam as correntes politicamente correctas: um jardim na Turquia ou o preço do autocarro no Brasil.
Estes jovens já não têm medo, porque sabem que ninguém ousaria detê-los com violência: o Obama nunca iria deixar.
Estes jovens aprenderam a usar as redes sociais como ninguém: usam-nas para se organizarem de maneira eficaz e gratuita; usam-nas para diabolizarem a autoridade; usam-nas como máquina de propaganda nunca até hoje posta à disposição da humanidade.
Estes jovens manifestam-se porque são irreverente, é giro, está na moda, e é espectacular para conquistar as meninas mais giras. Não é esse o objectivo final de tudo o que um homem faz na vida?
Terão então razão?
Têm razão quando pedem mais liberdade na Turquia e quando pedem menos mensalões no Brasil.
Têm razão quando dizem que são sempre os mesmos a encher os bolsos.
Têm razão quando dizem que a justiça não funciona! Muito menos é igual para todos.
Têm razão quando dizem que os políticos não são presos por corrupção.
Têm razão quando dizem que as estradas são feitas para ganhar votos! Para no final do dia, enriquecer a empresa construtora amiga do governo.
Têm razão quando dizem que o sistema político não é mais do que uma gigantesca e elaborada teia de fraudes sistémica criada para servir os donos do poder: presidentes, ministros, vereadores, prefeitos, autarcas e toda uma vasta gama de “servidores públicos”.
Têm razão quando dizem que têm direitos: o direito à educação, à saúde, à habitação, ao trabalho e à segurança social.
Não têm razão quando exigem que o Estado lhe dê mais e melhor desses direitos.
E é isto que falha. É esse o isco que têm que parar de engolir.
É preciso parar de tentar apagar o fogo atirando gasolina para a fogueira.
É preciso fazer a pergunta fundamental: são os políticos que estão mal ou é o próprio sistema que está doente?
Quero ouvi-los gritar bem alto: “Deixem as pessoas em paz!”
Quero ouvi-los gritar bem alto: “Já percebemos a vossa manha! Invocar princípios inatacáveis, como ajudar quem mais precisa, para ganhar votos e perpetuar a festa, enchendo os bolsos: os vossos e da vossa clientela.”
Quero ouvi-los gritar bem alto: “Não precisamos do estado!” Ou, pelo menos, não precisamos de um estado que pode tudo, que está em todo o lado, de quem todos dependem, e onde todos mamam, por ordem hierárquica, claro está.
Será possível?
Estou pessimista. Dizem que a história se repete vezes sem conta. E o que diz a história?
Diz que foram as ideias liberais de Locke e Montesquieu que deram origem à revolução Francesa, mas foi Robespierre quem prevaleceu.
Tal como então, alguém navegará estas águas agitadas para, com exactamente mais do mesmo, de novo se eleger: um novo governo, com um socialismo mais puro, que irá dar mais educação, mais saúde, mais habitação, mais trabalho, mais segurança social.
As expectativas serão maiores e a desilusão ainda mais rápida. Outro governo virá, e outro, e ainda outro.
Até ao dia em que alguém aparecerá a proclamar “São todos iguais! Acabou-se! Vamos acabar com os políticos e estabelecer uma pátria nacional solidária e una, tendo como único propósito o restabelecimento da paz e da dignidade perdida nesta grande nação e com este grande povo”. E o povo aclamará o ditador.
Como evitar este desfecho? Só há uma maneira: abrir os olhos.
Todo o sistema parasítico tem um limite: os exploradores têm de estar em número muito menor do que o de explorados, que não podem abrir os olhos.
Tenho alguma esperança no Brasil: muitos destes jovens abriram os olhos no Brasil, para espanto de toda a classe política que, muito naturalmente, não sabe com lidar com este tipo de #revolução.
A #revolução aponta o dedo ao Estado, e perde pouco tempo a apontar o dedo a este ou aquele político.
A #revolução pretende limpar a poia de merda em vez de passar a vida a culpar as moscas.
A #revolução percebeu que sem merda, não há moscas!