Os árbitros e a corrupção no futebol. Não percebo, sinceramente, não percebo.
Qualquer economista minimamente competente explicaria porque o actual modelo de arbitragem no futebol não funciona. É muito simples. Marcar ou não um penalti numa final da taça dos campeões, por exemplo, é uma decisão que vale milhões (para os clubes envolvidos), e está na mão de um só homem. E mais, a decisão, mesmo que provadamente errada, é irrevogável e válida. Não há segundas opiniões, recursos, comissões de avaliação, nada, zero! Aplique-se este mesmo princípio em qualquer outra situação em que uma única decisão com mais valias de milhões, é tomada por uma única pessoa, completamente alheia aos mesmos milhões, e de forma inquestionável! Teremos que recuar ao tempo da realeza para tal proeza. E provavelmente, nem aí. Alvíssaras eram sempre devidas.
Mas brinquemos um pouco mais: imaginemos políticos, diplomatas, banqueiros ou meros homens de negócios, começarem avulso, um belo dia, a tomar decisões de acordo com aquele modelo. Convenhamos, decisões do género existem, mas as diferenças são duas: primeiro, aos interessados (e/ou povo) deve ser dada uma explicação plausível – que, regra geral deverá conter alguma percentagem de verdade – e é comummente aceite que os interessados – grupos de pressão ou lobbys – metam ao bolso a parte que lhes compete.
Aos árbitros pelo contrário, aceitam-se sem explicação, decisões erradas, uma vez que a percepção do árbitro é falível. E de facto, é um ser humano, é falível. Mas sendo um ser humano, tem família e filhos, e como tal deverá fazer o que todo o bom progenitor faz: (em qualquer espécie animal) preparar o melhor que pode o futuro dos seus filhos.
Assim, aceitar uma choruda oferta para facilitar a vida a uma das equipas em jogo, não pode ser censurado, e deve mesmo ser até ser desculpado e compreendido. Analisemos bem os factos: ele pode falhar e são aceites decisões erradas. Mas uma decisão “errada” tem as suas razões. Pode ter sido devido a falha na atenção do seu olhar, porque nunca foi com a cara daquele jogador, porque a claque do clube estava a fazer demasiado barulho ou porque resolveu pagar a operação em Cuba do seu filho que está gravemente doente. Sinceramente, a última não me choca mesmo nada. Ninguém lhe vai pedir para explicar porque tomou “aquela” decisão errada e não outra.
É o sistema, meus caros, é o sistema. Por último só questiono: se é tão fácil perceber isto, pergunto-me porque ainda continua assim?! Acho que a resposta também é fácil, fácil demais…