A maneira como a nossa cultura construiu os seus preconceitos em relação às pessoas diminuídas física e mentalmente dá que pensar.
É muito mal visto fazer piadas, pelo menos em público e abertamente sobre deficientes. Não passa pela cabeça de ninguém ridicularizar um deficiente. Mesmo num programa como o “Levanta-te e Ri”, fazer piadas com deficientes motores ou paraplégicos não é de bom-tom, e quem esporadicamente o faz, leva sempre os fortes apupos e assobios do costume.
No entanto, e à imagem do reino animal, a intrínseca vontade escondida de judiar e gozar com os seres iguais mas inferiores existe em grande parte de nós.
Deficiências físicas são visíveis e óbvias. No entanto, as deficiências mentais, nem sempre são óbvias e certas pessoas podem mesmo ser confundidas com pessoas em plena posse das suas faculdades mentais, mas apenas brincalhonas.
Essas são o alvo ideal. Continuam a ser aberrações, mas podem ser exploradas comercialmente porque são suficientemente “normais” para passarem por “seres normais com uma vontade permanente de se ridicularizarem e humilharem a si próprios”.
Sá Leão e José Castelo Branco são dois grandes exemplos. Outro é o Emplastro que foi mesmo recentemente usado para o lançamento de uma discoteca no norte do país. Mas há mais, muitos mais.
Não evoluímos muito desde o tempo em que se mostravam pessoas deficientes nos circos. O homem mais pequeno do mundo, a mulher sem pernas. Quem não conhece o famoso filme dos anos 20, “Freaks”?
Pergunto: Não devia o Estado e enfim, todos nós, responsabilizarmo-nos e proteger estas pessoas do canibalismo das audiências?