As recentes revelações sobre os atentados de Londres vêm trazer por terra um argumento que muitas vezes é usado por nós, culturas ocidentais, para explicar os actos terroristas. Qualquer coisa como isto: quem pratica os actos terroristas é filho de uma vivência muito própria, de uma educação espartana, fundamentalista e principalmente, não tem nada a perder. Vive na pobreza extrema e portanto, a morte é uma opção quando não se tem um emprego “fixe”, um carro para “ir para fora cá dentro” passear no fim-de-semana e uma casa decorada com design “a la carte”, graças ao Ikea. Para quem não tem nada disto, é claro que a morte é uma opção. Eu próprio, admito, cheguei em tempos a comprar esta ideia pronta-a-vestir. Os terroristas de Londres tinham tudo isto desde que nasceram e estavam completamente integrados na comunidade britânica. Tinham tudo aquilo, menos a convicção de que tudo aquilo é suficiente. E essa é uma diferença fundamental. E essa é toda uma questão fundamental. Reparam, por certo, que usei a palavra fundamental duas vezes. O que é fundamental hoje em dia, pergunto eu? O que justifica a nossa vida? Pelo que éramos capazes de dar o bem mais precioso que possuímos hoje em dia, isto é, a nossa própria vida? Para além da própria vida dos nossos filhos, nenhum outro motivo ou causa justificaria tal sacrifício. É preciso continuar vivo e continuar a produzir e a consumir. O que hoje parece inquestionável, nunca foi assim. E todos sabemos isso. Todos já vimos filmes de outras épocas em que a honra, a pátria ou a lealdade eram valores que se sobrepunham sempre à vida. E são esses os valores que os terroristas defenderam. Na mente destes jovens, estão a defender uma nação, um povo, estão a salvar toda uma pátria. Eles são o próprio Willliam Wallace!