Na noite de 24 de Junho – e ao que tudo indica, parece estar a ser prática corrente desde que o EURO2004 começou – aconteceu, na Avenida 24 de Julho, a situação caricata que a seguir descrevo.
É tão simples como isto: cerca das 3 horas da madrugada e para pequenas distâncias, era completamente impossível apanhar um táxi! Mas o impensável vai ainda mais longe; caso a aparência de quem pedia um táxi fosse a de um típico “portuga”, então é que os táxis não paravam mesmo.
Pois é, aconteceu comigo e com outros compatriotas. 3 horas da manhã e nós a sairmos de uma discoteca na Avenida 24 de Julho. A clássica fila de táxis à porta, nem vê-la, o que até se compreendia dado os acontecimentos daquela noite: a selecção tinha passado às meias-finais! Até aqui tudo bem, nada a fazer a não ser esperar. O primeiro sinal de que algo de estranho se passava com os táxis é dado quando, depois de ter deixado alguns passageiros, o primeiro táxi que aparece fica misteriosamente sem qualquer luz em cima. Nem sinal da luzinha verde que todos aguardavam ansiosamente. Pensei: luz desligada, acabou o serviço, vai para casa, e perdi-lhe o rasto.
Eis que chega um segundo táxi e o procedimento é exactamente igual. Desta vez fiquei mais curioso e continuei a segui-lo com o olhar. Observo então, ao longe, vários grupos de pessoas a dirigirem-se ao táxi e a voltarem para trás. Tudo bem, pensei para comigo, são ignorante, não percebem que acabou o serviço. Não podia estar mais errado!
O que se realmente se passava e que vim a descobri mais tarde da pior maneira possível, era um verdadeiro “leilão”, onde o taxista escolhia a seu bel-prazer quem iria ser o felizardo contemplado com uma viagem! Portugueses estavam praticamente excluídos à partida, a preferência era dada a estrangeiros, ingleses no topo da lista. A regra era a seguinte: quando mais ignorantes, bêbados, estúpidos e com aparência de terem dinheiro, mais era a probabilidade de terem a atenção do taxista. Mas é claro, não se pense que isso chegava. De facto, vi muitos com essas mesmas características a serem, ainda assim, recusados. As palavras-chave que abriam o “táxi-sessamo” nessa noite eram mesmo: “Sinteraa”, Cázcais” ou “Éstoril”. Aí sim, voltava a desejada luz verdinha, ainda que só por meros segundos.
Já se está mesmo a ver que situação repetiu-se, repetiu-se e voltou-se a repetir nessa noite. Depois de muitas tentativas, algumas discussões – muitas delas terminadas com a mesma frase: “O Táxi é meu, faço o que eu quiser!” – a verdade é que só conseguimos apanhar táxi com a intervenção da PSP no local. Um dos agentes deu “umas palavrinhas” a um taxista, notícia espalhou-se misteriosamente e parece ter sido remédio santo.